Existem inúmeras formas através das quais
a falta do sono o vai matar. Algumas demoram mais tempo; outras são bastante
mais rápidas. Uma das funções cerebrais que cede mais depressa sob a menor
quantidade de privação de sono é a concentração. As consequências sociais
mortíferas que este tipo de falha de concentração acarreta fatalmente sob a
forma de acidentes de viação. Nos Estados Unidos, a cada hora que passa morre
uma pessoa em acidentes de viação relacionados com erros de fadiga.
Existem dois culpados fundamentais nos
acidentes de viação por fadiga. O primeiro é o facto de os condutores
adormecerem ao volante. Porém, isto não acontece com muita frequência e
normalmente implica que o condutor esteja num estado de privação de sono severa
(depois de estar acordado há mais de 20 horas). O segundo, e mais comum, é um
lapso momentâneo na concentração, denominada microssono. Estes episódios duram
poucos segundos e durante este tempo as pálpebras fecham-se parcial ou totalmente.
Normalmente ocorrem em pessoas que dormem cronicamente pouco – esta condição
define-se por um sono habitual de menos de sete horas de sono por noite.
Industry
Update: Acute Sleep Deprivation and Crash Risk | DJS Associates
(forensicdjs.com)
Durante um microssono, o cérebro torna-se por breves instantes cego em relação ao mundo que o rodeia – não apenas no aspeto visual, mas em todos os canais de perceção. Na maior parte das ocasiões, as pessoas não têm consciência do episódio. Mas o mais problemático é que o controlo decisivo de ações motoras, como o que é necessário para operar um volante ou carregar num pedal do travão, será temporariamente interrompido. Como resultado, não é necessário adormecer durante dez ou quinze segundos para morrer enquanto conduz. Dois segundos bastam. Um microssono de dois segundos a 50 quilómetros por hora com um ângulo modesto no volante pode resultar na mudança completa do seu carro para a faixa do lado. Ou para a faixa contrária. Se isto acontecer a 100 quilómetros por hora, pode ser o seu último microssono.
David Dinges, da Universidade da
Pensilvânia, um verdadeiro titã na investigação do sono e meu herói pessoal,
fez mais do que qualquer cientista da história para responder a esta questão
fundamental: Qual é a taxa de reciclagem de um ser humano? Ou seja, quanto
tempo um ser humano aguenta sem dormir antes que o seu desempenho seja
objetivamente afetado? Quanto sono pode um ser humano consciente de como se
encontrava em privação de sono? Quantas noites de sono recuperação são
necessárias para restaurar o desempenho estável de um ser humano depois da
privação do sono?
(...)
Depois de 30 anos de investigação intensa,
podemos agora responder a muitas das perguntas. O ritmo de reciclagem de um ser
humano é de cerca de 16 horas. Depois de 16 horas de vigília, o cérebro começa
a falhar.
Pode ficar surpreendido ao saber que os
acidentes causados pelo sono ao volante excedem os causados pelo consumo de
álcool e de droga somados. Conduzir com sono é pior do que conduzir embriagado.
No entanto, a minha afirmação é verdadeira
por um motivo muito simples os condutores embriagados atrasam-se
normalmente a travar e a fazer manobras evasivas. Mas quando se adormece ao
volante, ou se tem um microssono, deixa de reagir completamente.
Drowsy Driving (floridaweekly.com)
Atenção. No final e muito importante: se está a
conduzir e sente sono, por favor, pare. É letal. Carregar nos seus ombros o
fardo da morte de pessoa é algo terrível. Não se deixe convencer pelas muitas
táticas ineficientes que as pessoas lhe dizem que pode empregar para combater o
sono ao volante. Muitos de nós pensamos que seremos capazes de ultrapassar o
sono só com força de vontade, mas infelizmente isto não é verdade. Presumir o
contrário pode colocar em risco a sua vida, a dos familiares ou amigos que
viajem consigo no carro e as vidas das outras pessoas que andam na estrada.
Fonte: Walker, Matthew; Porque dormimos?;
Men’s , fevereiro 2019, 978-989-8892-25-6 Pág 152
Veja o seguinte vídeo:
Associação
Portuguesa do Sono - Multimédia (apsono.com)
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