terça-feira, 1 de março de 2022

Acha que está velho demais para parar de fumar? Pense de novo

Não é nenhum segredo que o fumo do tabaco pode ser mortal. Está fortemente ligado ao cancro, doenças cardíacas e problemas pulmonares, entre outras doenças graves e mortais.

Entre os adultos, o tabagismo continua a diminuir nos Estados Unidos, de 20% em 2005 para 14% em 2019, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças. O risco de morrer de fumar não diminuiu, no entanto, e estima-se que 1 em cada 5 mortes  seja atribuída ao tabagismo.

Uma razão pela qual a taxa de mortalidade não diminuiu tão drasticamente é que o vício do tabaco é difícil de eliminar. Para alguns, parar de fumar tornou-se ainda mais difícil durante a pandemia do COVID-19, pois muitas pessoas enfrentaram maior stress . Durante a pandemia, as vendas de tabaco aumentaram 13%, após anos de declínio.



Mesmo que as taxas gerais de tabagismo tenham diminuído, a taxa quase não mudou entre aqueles com 65 anos ou mais na última década. Quase 9% dos adultos com 65 anos ou mais eram fumadores regulares em 2020, o que significa que mais de 4 milhões de adultos mais velhos poderiam ficar melhor com o abandono do hábito.

Dito isto, vários equívocos comuns sobre o tabagismo nos adultos mais velhos persistem. Eliminá-los pode ser um passo essencial para ajudar os fumadores de longa data a parar de uma vez por todas.

Equívoco 1:  Depois de fumar por décadas, parar de fumar não fará muita diferença para a saúde de alguém.

Verdade:  Parar de fumar em qualquer momento da vida diminui o estrago pulmonar causado pelo tabagismo, e as pessoas que param de fumar aos 65 anos tendem a viver mais do que aquelas que continuam a fumar. Além disso, parar de fumar  pode beneficiar a maioria das partes principais do seu corpo  – incluindo melhorar o fluxo sanguíneo para ajudar a curar feridas adequadamente e até mesmo ajudar a manter a audição e a visão noturna nítidas.

Equívoco 2:  Os fumadores mais velhos têm mais dificuldade em parar do que os fumadores mais jovens.

Verdade:  Embora os fumadores mais velhos sejam menos propensos a tentar parar, estudos mostram que eles são  mais propensos a ter sucesso  do que os fumadores mais jovens quando tentam parar. Isso não significa que fumar seja necessariamente mais fácil de parar à medida que as pessoas envelhecem, mas a idade em si não deve ser um obstáculo.

Equívoco 3:  As mudanças no estilo de vida de um fumador mais velho tornam mais difícil parar de fumar.

Verdade:  Os fumadores mais velhos costumam fazer grandes mudanças nas suas vidas, desde se aposentar até reduzir o tamanho de sua casa e abrir espaço nas suas vidas para os netos. Essas mudanças geralmente desencadeiam mudanças naturais nas perspectivas e comportamentos que podem ser úteis para parar de fumar. A perspectiva de tomar conta de um novo neto ou visitar um destino de férias há muito esperado pode ser um poderoso motivador para deixar os cigarros de lado para sempre.

A pesquisa não apenas mostra que as pessoas ainda podem colher benefícios para a saúde quando param mais tarde na vida, mas também que, uma vez que uma pessoa mais velha tenha decidido parar, ela tem uma boa hipótese de sucesso.

A duração do hábito de uma pessoa não deve ser um impedimento. Uma vida sem fumo pode ser alcançada em qualquer idade.

https://newsroom.uhc.com/health/awareness/myths-about-quitting-smoking.html

Fumantes mais velhos que param de fumar experimentam muitos benefícios para a saúde, como diminuição do risco de declínio cognitivo, prevenção de polifarmácia, melhores resultados de saúde e melhor qualidade de vida (Kivipelto, Mangialasche e Ngandu, 2018; HHS, 2020).


QUANDO UM FILHO TEM CANCRO: ADAPTAÇÃO INDIVIDUAL E FAMILIAR

“O seu filho tem cancro”. Que notícia barulhenta e cheia de silêncios lá dentro...

Para muitos pais há poucos momentos tão avassaladores como receberem o diagnóstico de cancro de um filho. Tanto para assimilar: um conjunto de informações novas e complexas sobre a doença/tratamento, um acréscimo abrupto de tarefas (por ex., na prossecução do tratamento e aplicação de medidas de prevenção de infeções em casa; ajudar a criança/adolescente a aderir aos tratamentos e procedimentos médicos no hospital). Para além disso, habitualmente, um dos pais reduz ou deixa de trabalhar para exercer o papel de cuidador, enquanto o outro mantém o emprego e presta cuidados aos outros filhos.

Estas reorganizações no funcionamento familiar são a forma que estes pais encontram de garantir que cuidam de todos da melhor maneira, “a todo o custo”. Já a criança/adolescente está frequentemente sujeita à dor, entre outros sintomas, seja devido à doença, aos procedimentos invasivos ou a efeitos secundários das intervenções. Perante estes desafios, não é de estranhar o elevado risco para, estes pais e filhos, apresentarem manifestações de ansiedade e depressão e pior qualidade de vida. Isto faz ainda mais sentido se pensarmos no carácter inesperado e ameaçador da doença e nas constantes perdas e desafios associados.

Um desses desafios pode ser a comunicação do diagnóstico aos filhos, momento este que pode ser muito assustador para os pais. Muitos pais pensam que poderão estar a proteger a criança/adolescente ao não falar sobre a doença. Contudo, as crianças/adolescentes percebem que há algo diferente no seu corpo e podem questionar-se sobre o porquê das visitas ao hospital e das consultas médicas. Por outro lado, não é possível conter esta informação, dada a probabilidade da criança/adolescente vir a saber por outras vias, além de crescer a tendência para elas próprias construírem os seus significados e fantasias com o que vão vendo e ouvindo em si e nos outros.

Por exemplo, crianças mais pequenas podem pensar que se sentem doentes por algo de errado que tenham feito. Não saber o que se passa e o que esperar pode gerar ainda mais confusão, medo e ansiedade. Se os pais não podem verdadeiramente controlar esta informação podem, ainda assim, fazer com que esta seja passada num ambiente seguro e de confiança. E ninguém melhor para o fazer, com a devida preparação, que os próprios pais. É dos pais que os filhos querem receber o colo para a dor mas também é humano que estes pais precisem de ajuda para gerir esse momento ou até de pedir “reforços” para o enfrentarem.

É, assim, importante falar da doença abertamente e acolher questões e inquietações existentes, nomeadamente relativamente a procedimentos médicos, ajustando a informação e as respostas à fase de desenvolvimento e capacidade de compreensão da criança/adolescente.

Outro aspeto importante é manter a normalidade do dia a dia, não obstante naturalmente a “des-normalidade” de tudo o que implica ter um cancro e ser mãe ou pai de uma criança/adolescente com cancro! Num momento em que parece que não se controla nada, promover o contacto com a escola, amigos, colegas - ainda que limitado quando há risco de infeção para a criança/adolescente - fornece precisamente uma sensação de previsibilidade e segurança. Ainda, o contacto com a escola permite que continuem a aprender e a sentirem-se “menos diferentes” dos demais colegas e amigos.

Outro aspeto que ajuda a atenuar esta perceção de diferença (e promove o sentido de normalidade) é a manutenção de papéis na vida familiar e de rituais familiares significativos como a hora do jantar, as comemorações anuais ou os rituais dos fins-de-semana. Por outro lado, se é difícil disciplinar os filhos quando tudo decorre como previsto, com o diagnóstico de cancro, a tendência para muitos pais (e adultos no geral) é tornarem-se mais permissivos – “Já é demasiado sofrimento”.

Os limites na relação pais-filhos mantêm-se como um aspeto essencial no crescimento das crianças/adolescentes e na sua regulação emocional e comportamental. As crianças/adolescentes têm direito a serem tratadas como quem são - a Sofia, o Manuel ou a Inês - e a não se tornaram a doença.

Este é um processo de adaptação complexo para todos, que requer dar-se tempo a si próprio e ao seu filho para irem descobrindo juntos formas de se regularem emocionalmente perante todas as alterações/manifestações físicas, emocionais e sociais que surgem.

Não há receitas simples para acontecimentos desta complexidade e como o fazer é uma decisão inteiramente vossa, pais. Mas importante é saber que não têm de estar sozinhos neste processo e é fundamental que invistam no autocuidado. Por exemplo: permita-se a estar com as pessoas importantes para si, aceite procurar ajuda para dividir a sobrecarga, ouça os seus pensamentos e emoções (não é preciso fechá-los a sete chaves), partilhe-os com um adulto da sua confiança, mantenha (mesmo que esporadicamente) um momento seu, uma atividade de prazer (que pode ser estar apenas 10 minutos em silêncio à porta do prédio, antes de entrar em casa!).

Afinal, como tão bem nos ensinam nas viagens de avião, antes de colocarmos a máscara de oxigénio às crianças, há que colocá-la em nós (adultos) primeiro – e se não for sempre capaz, não se culpe. Está, de certeza, a fazer o que acredita ser preciso fazer e o melhor que consegue com aquilo que vai vivendo a cada momento.



Conteúdo desenvolvido pelas psicólogas clínicas:
Sara Albuquerque
Ana Santos
Susana Santos



PIN - Centro de Desenvolvimento

https://estrelaseouricos.sapo.pt/temas/pedagogia/quando-um-filho-tem-cancro-adaptacao-individual-e--17268.html


Sinais de privação de sono em crianças e adolescentes

Provavelmente já passou por privação do sono enquanto adulto. Sabe como é acordar de manhã, zonzo e ter de se aguentar ao longo do dia. Provavelmente já se deparou com “microsono”, aqueles breves momentos em que adormece. Sabe como é difícil ficar alerta e prestar atenção. Tem uma sensação geral de fadiga. E de certeza lembra-se de como a insónia desgasta o seu bem-estar emocional.

Mas e as crianças? Quais são os sinais de privação de sono nas crianças e adolescentes? Quando os jovens não dormem o suficiente, geralmente apresentam os mesmos sintomas que observamos nos adultos quando privados de sono: 

·        É difícil acordá-los de manhã.

·        São propensos a adormecer espontaneamente durante o dia.

·      Tem mau humor ou irritabilidade e têm mais problemas para controlar os seus impulsos.

·      É difícil para eles prestarem atenção ou se concentrarem. O tempo de reação diminui.

·       Tem pouco interesse ou curiosidade em aprender.

·        Estão mais distraídos, e a sua participação nas aulas é mais lento e confuso.

·      Nos fins de semana ou feriados, “dormem” até tarde – a tentativa do corpo de recuperar o sono acumulado durante a semana escolar.

 

Estes sinais observam-se a curto prazo. 

O que acontece a longo prazo – quando as crianças habitualmente dormem menos?

De acordo com uma pesquisa recente, 36% das crianças americanas, de 6 a 12 anos, não dormem o suficiente. Quase 32% dos adolescentes dos EUA não dormem adequadamente (Tsao et al 2021). 

E estudos sugerem que crianças com perca crónica de sono correm maior risco de:

  • Tem pouca vontade de participar durante as aulas (Tso et al 2016);
  • Sofrer lesões que requerem atenção médica (Obara et al 2021);
  • Tem com frequência desconfortos gastrointestinais (Krietsch et al 2020);
  • Não fazer os trabalhos de casa (Tsao et al 2021);
  • Aumento de peso excessivo durante a infância (Yu et al 2021; Lumeng et al 2007); 
  • Problemas psicológicos como a ansiedade, depressão, agressão ou quebra de regras vão aparecendo (Vermeulen et al 2021).

 

Portanto, se uma criança costuma dormir pouco, há muito mais em jogo do que se sentir um pouco mal-humorada, sonolenta ou fora de ordem. 

https://www.childrenscolorado.org/conditions-and-advice/cnditions-and-symptoms/conditions/sleep-deprivation/

Os sinais socioemocionais da privação do sono

Através de uma série de estudos, os pesquisadores confirmam o que sabemos da experiência quotidiana. As pessoas que sofrem de perda de sono tendem a ter humores negativos (Tomaso et al 2020).

A ligação é evidente desde a infância. Os bebes que dormem menos durante um período de 24 horas são mais propensos a desenvolver sintomas de ansiedade e depressão durante a infância (Mindell et al 2017).

Também está claro que o sono e a emotividade estão ligados entre crianças mais velhas e adolescentes (Sheik e Buckhalt 2005; Vriend et al 2015).

É claro que a correlação não prova a causalidade. Se uma criança está tendo dificuldades emocionais, não podemos assumir que o sono é o culpado. As coisas também podem funcionar na direção oposta, com problemas emocionais tornando mais difícil para uma criança adormecer ou dormir de forma seguida.

Além disso, estudos sugerem que certos genes têm efeitos sobrepostos – colocando simultaneamente as crianças num maior risco de problemas de sono e dificuldades emocionais (Miadich et al 2020; Vermeulen et al 2021). E nessa situação será mais difícil a cura.

https://parentingscience.com/signs-of-sleep-deprivation/