domingo, 6 de junho de 2021

RECOMENDAÇÕES DA SPP SOBRE TABACO E COVID-19

“ O impacto do tabagismo na transmissão do novo coronavírus SARS-CoV-2, na gravidade e na mortalidade por COVID-19 ainda não se encontra bem esclarecido e têm sido poucos os esforços realizados no sentido de aumentar esse conhecimento.


A Comissão de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia pretende fazer uma revisão teórica da bibliografia existente até à data, incentivar a investigação nesta área e elaborar um conjunto de recomendações. Como sabemos, o consumo de tabaco constitui um importante fator de risco para várias patologias crónicas, nomeadamente doenças respiratórias, cardiovasculares, diabetes e cancro, entre outras, grupos que correm maior risco de doença grave e mortalidade por COVID-19.

O tabagismo tem um efeito imunossupressor reconhecido, tornando os fumadores mais vulneráveis às infeções respiratórias. A análise bioquímica da expectoração induzida de fumadores saudáveis revelou um ratio mais elevado de células T CD4+/CD8+ e uma percentagem menor de linfócitos T CD8+, cuja atividade é fundamental para a rápida resolução de infeções virais agudas, o que sugere um défice da imunidade mediada por células e uma maior suscetibilidade às infeções virais1 .

Estudos prévios demonstraram que os fumadores têm 34% maior probabilidade de infeção por influenza do que os não-fumadores e apresentam maior risco de internamento hospitalar. Verificou-se uma taxa de mortalidade por outros coronavírus superior nos fumadores, como no surto prévio de MERS (Middle East Respiratory Syndrome).

Esta suscetibilidade inclui provavelmente o novo coronavírus por mecanismos adicionais: Brake mostrou recentemente que fumar tem o potencial de regular positivamente o recetor da enzima conversora de angiotensina-2 (ACE2) no epitélio respiratório, que corresponde ao recetor de ambos os SARS-coronavírus (SARS-CoV e SARS-COv-2) e do coronavírus respiratório humano NL6384.

Além dos fumadores, esta expressão também se encontra aumentada nos doentes com doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), tornando este recetor num potencial alvo terapêutico e sugerindo uma maior suscetibilidade à COVID-19 nesta população.

Cai relatou recentemente uma maior expressão do gene ACE2 nas amostras de fumadores em comparação com nunca fumadores e Zhao et al. mostraram que a proteína ACE2 é expressa na superfície dos pneumócitos tipo 2, nos quais os genes que regulam a reprodução e transmissão viral têm elevada expressão. Além da expressão de ACE2 estar elevada nos doentes com DPOC, possivelmente também pode ocorrer em doentes com outras doenças pulmonares crónicas, como a fibrose pulmonar idiopática.

Por outro lado, o contacto mão-boca e mão-face realizado frequentemente e repetidamente pelos fumadores, constitui uma fonte de infeção reconhecida. Adicionalmente, a partilha de tabaco e seus produtos está associado a risco de contágio, como por exemplo a partilha de cigarros ou do cachimbo de água ou shisha. Além disso, a utilização de cachimbo de água ou cigarro eletrónico é um risco para transmissão do SARS-CoV-2, pois o utilizador exala gotículas de vapor, que podem transportar o vírus9.

Apesar de escassa, a evidência científica disponível sugere uma associação entre tabagismo e gravidade da COVID-19. O maior estudo publicado até à data, que incluiu 1099 doentes diagnosticados com COVID-19 (Guan et al), mostrou que no grupo de doentes com sintomas graves à admissão (n=173), 16.9% eram fumadores ativos e 5.2% eram ex-fumadores, enquanto que se verificaram 11.8% de fumadores ativos e 1.3% de ex-fumadores no grupo sem sintomas de gravidade à admissão (n=926)10.

Além disso, verificou-se que, no grupo de doentes com prognóstico desfavorável (necessidade de internamento em Unidade de Cuidados Intensivos, ventilação mecânica ou morte), 25.5% dos doentes eram fumadores ativos e 7.6% ex-fumadores10.

A partir dos dados publicados, Vardavas e Nikitara calcularam que os fumadores tinham 1.4 vezes maior probabilidade (RR: 1.4, IC95%: 0.98–2.00) de apresentar sintomas graves de COVID-19 e aproximadamente 2.4 vezes maior probabilidade de internamento em Cuidados Intensivos, necessidade de ventilação mecânica ou morte em comparação com não-fumadores (RR = 2.4, IC 95%: 1.43-4.04)11.


Um outro estudo com 78 casos de pneumonia COVID-19 publicado por Liu et al mostrou que, em 27.3% dos doentes com história de tabagismo, verificou-se agravamento clínico após duas semanas de evolução em comparação com 3.0% no grupo dos não-fumadores; a análise de regressão logística multivariada indicou que a história de tabagismo representa um risco de progressão da doença catorze vezes superior (OR: 14.28; IC95%: 1.58–25.00; p=0.018)11,12.

Na China, a prevalência de tabagismo nos homens é de aproximadamente 48%, mas apenas 3% nas mulheres; os dados da Missão Conjunta OMS-China sobre Coronavírus 2019 reportam uma taxa de mortalidade mais elevada nos homens do que nas mulheres (4.7% vs. 2.8%), facto que poderá estar relacionado com os hábitos tabágicos, mas que carece de mais investigação13,14.

Por todas estas razões, para além dos benefícios para a saúde e possível impacto na gravidade da doença COVID-19, é plausível que um aumento na taxa de cessação tabágica possa ajudar a reduzir a transmissão comunitária de SARS-CoV-2.

No contexto pandémico, baseada na evidência já disponível, a Sociedade Portuguesa de Pneumologia emite as recomendações abaixo.

Este documento será revisto sempre que novas evidências o justifiquem.

 

 

RECOMENDAÇÕES

1. Incentivar a cessação tabágica nos doentes e profissionais de saúde;

2. Oferecer a utilização de nicotina sob a forma transdérmica ou oral nos profissionais de saúde fumadores durante os turnos de trabalho;

3. Recolher a história tabágica de todos os doentes COVID-19;

4. Desencorajar a partilha de tabaco ou produtos de tabaco;

5. Dar prioridade aos fumadores como grupo de risco;

6. Promover a cessação tabágica na comunidade, incluindo cigarros, produtos de tabaco aquecido e cigarros electrónicos. “

https://www.sppneumologia.pt/uploads/subcanais_conteudos_ficheiros/tabaco-e-covid19.pdf 

 

 


quinta-feira, 3 de junho de 2021

A sua mãe e Shakespeare sabiam: Os benefícios do sono para o cérebro

 

DESCOBERTA FANTÁSTICA!

Os cientistas descobriram um novo tratamento revolucionário que o faz viver mais. Melhora a sua memória e torna-o mais criativo. Fá-lo parecer mais atraente. Ajuda na manutenção do peso e diminui a vontade de comer permanentemente. Protege-o do cancro e da demência. Afasta as constipações e  a gripe. Até vai deixá-lo mais feliz, menos deprimido e menos ansioso. Está interessado?”

“Embora possa parecer um pouco hiperbólico, nada neste anúncio fictício é impreciso. Se fosse de um novo medicamento, muitas pessoas ficariam desconfiadas. Aqueles que se deixassem convencer pagariam grandes quantias de dinheiro pelo tratamento, mesmo que fosse apenas uma pequena dose. Se os testes clínicos suportassem esta descrição, as ações da empresa farmacêutica que o inventou subiriam vertiginosamente.

Claro que este anúncio não está a publicitar um extrato milagroso qualquer, nem um medicamento que cura tudo, mas apenas os benefícios comprovados de uma boa noite de sono. As provas que apoiam estas afirmações foram documentadas em mais de 17 000 relatórios científicos escrutinados até à data. Quanto ao custo do tratamento, não existe. Ele é gratuito. No entanto, é demasiado frequente recusarmos o convite noturno para termos a nossa dose completa deste remédio inteiramente natural e as consequências são terríveis.

Devido à falha na educação do público, a maior parte de nós não se apercebe de como esta panaceia de sono é verdadeiramente extraordinária.

Ironicamente, a maior parte das «descobertas» em relação ao sono foram sumarizadas de forma maravilhosa em 1611, em Macbeth, ato dois, cena dois, quando Shakespeare declara profeticamente que o sono é «o principal alimento do banquete da vida». Com uma linguagem talvez menos rebuscada, a sua mãe já lhe deve ter oferecido conselhos parecidos, exultando os benefícios do sono na cura das feridas emocionais ajudando-o a aprender e a recordar, oferecendo-lhe soluções para problemas desafiantes e prevenindo doenças e infeções. Segundo parece, a ciência tratou apenas de provar de forma decisiva tudo o que a sua mãe, e aparentemente Shakespeare, sabiam sobre as maravilhas do sono.

https://www.elivrosgratis.com/download/1806/macbeth-william-shakespeare.html

SONO PARA O CÉREBRO

O sono não é ausência da vigília. É bastante mais do que isso. Como já foi descrito anteriormente, o sono noturno é extraordinariamente complexo, metabolicamente ativo e uma ordem deliberada de séries de fases únicas.

Numerosas funções do cérebro são restauradas e aprofundadas durante o sono. Não existe um tipo de sono que as execute a todas. Cada fase do sono – sono NREM leve, sono NREM profundo e sono REM – oferece benefícios diferentes para o cérebro em diferentes alturas da noite. Assim, não um tipo de sono que seja mais essencial do que o outro. Passar ao lado de uma destas fases de sono vai causar um entorpecimento cerebral.

Das muitas vantagens conferidas pelo sono ao cérebro, a da memória é especialmente impressionante e particularmente bem entendida. O sono provou repetidamente ser um bom auxiliar de memória: tanto antes da aprendizagem, quando prepara o cérebro para criar novas memórias, como depois da aprendizagem, quando consolida essas memórias e impede o seu esquecimento.”

Fonte: Walker, Matthew; Porque dormimos?; Men’s Journal, fevereiro 2019, 978-989-8892-25-6 Pág 123 a 124

Período irregular expõe as mulheres a ansiedade e depressão

 

Uma em cada três mulheres têm períodos irregulares durante os anos de fertilidade e surgem agora um conjunto de pesquisas que vêm demonstrar que algo mais se pode estar a passar na saúde ginecológica, mas também ao nível mental e mediante problemas desta natureza. Sintomas comuns que podem, afinal, esconder outras patologias.

O Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism publicou uma atualização de um estudo de 1966 que, na ocasião, reuniu dados de mais de cinco mil mulheres em quatro momentos das suas vidas: no primeiro ano de idade, aos 4, aos 31 e aos 46 anos e com o objetivo de verificar a prevalência de doenças mentais em mulheres com Síndrome de Ovário Poliquístico (SOP) ou sintomas relacionados com aquela doença.

 https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/pcos/symptoms-causes/syc-20353439#dialogId34157786

A última revisão do estudo, que teve lugar há 15 anos, concentrou-se nas mulheres de 31 – em idade fértil -e de 46 anos e concluiu que a ansiedade e a depressão são mais comuns em mulheres em idade fértil ou pré-menopausa com sintomas ou mesmo com aquela doença do que na população feminina em geral. E o rácio dá que pensar: é de duas a oito vezes maior.

O mesmo estudo conclui que nem as pacientes, nem os médicos de clínica geral reconheceram a doença mental como uma elemento integrante da sintomatologia da SOP.

Em Portugal, estima-se que a síndrome atinja 6% das mulheres em idade fértil, sendo considerada uma das desordens endocrinológicas mais comuns no sexo feminino.

Também um estudo da Universidade de Colúmbia, mas de menores proporções, aponta no mesmo sentido. A investigação reuniu 126 mulheres e conclui que os períodos anormais nas mulheres com SOP é o principal indicador de doença mental. “As mulheres com a síndrome têm presentes níveis de stress estatisticamente semelhantes à população psiquiátrica feminina”, explica o estudo publicado no Journal of Behavioral Health Services & Research. A mesma análise reivindica também que os pelos corporais e os problemas menstruais são os que mais denunciam a presença de ansiedade.

Ambos estudos vêm agora apontar que os sintomas como a infertilidade, o ganho de peso e o crescimento capilar são responsáveis por desencadear problemas psicológicos.



Nancy Reame

Contudo, o que surpreende os investigadores é descobrir que as irregularidades menstruais com mulheres com SOP se apresentam como o fator que mais rotundamente aponta para a presença de problemas mentais, sobretudo quando há outros problemas como a infertilidade ou o hirsutismo que podem fazer uma mulher sentir-se pouco feminina”, diz a autora do estudo Nancy Reame. Vai ainda mais longe dizendo que não se pode tratar o SOP com eficácia se não se olhar devidamente para os sinais de problemas mentais.

Embora existam soluções naturais para lidar com a síndrome, também é certo que não há um tratamento absoluto para a cura da doença. Ente as formas de tratamento contam-se soluções como a prática de exercício físico regular, o uso de pílula anticoncecional para quem tem SOP ou medicamentos específicos para limitar o excesso de testosterona, o recurso a estimulantes para a menstruação ou mesmo dietas específicas e a da diabetes pode ser uma delas. Em Portugal, é também, já recomendado o recurso a psicoterapia para lidar com a ansiedade que decorre das mudanças a que o corpo está sujeito.

Na base da síndrome está uma hormona que pode causar menstruações irregulares, infertilidade, obesidade, hirsutismo. Para lá destes sintomas comuns da SOP, há outros como acne e obesidade, hipertensão arterial.

https://www.delas.pt/a-condicao-feminina-que-expoe-as-mulheres-a-ansiedade-e-depressao/corpo-e-mente/254736/