"Recordar como foi a primeira vez...Correndo embora o
risco de forçar portas já abertas, gostaria de concretizar alguns fenómenos já
bem conhecidos.
Há em primeiro lugar as influências sociais. São
amplamente desenvolvidas pela ação perniciosa, e muito eficaz, da publicidade.
O aumento da influência dos meios de comunicação social pode explicar o
paralelo aumento do consumo do tabaco nos últimos anos. As recentes medidas
contra o tabaco vieram, certamente, moderar a situação; mas os atrativos do
cigarro e a significação que lhe é atribuída têm origem em outras motivações
que são tanto ou mais fortes que essas. Alguns exemplos: o charuto a ideologia
da burguesia ou os simpatizantes do movimento catrista, o requintado cigarro de
filtro, o cigarro «popular», o cigarro enrolado à mão dos ecologistas...
Nas crianças, o papel iniciático do cigarro, que é
assimilar a entrada no mundo dos adultos, sempre teve um certo peso. A criança
pode ser levada pelo exemplo dos pais:
e a probabilidade de uma criança adquirir o hábito de fumar é tanto maior
quanto os seus pais o tiveram também. Mas as crianças de 8 a 10 anos de idade
são naturalmente hostis e mostram-se intrigadas com a atitude dos pais que
fumam. Na falta de resposta para as suas dúvidas, são levadas a atribuir ao
cigarro uma auréola misteriosa. Na sequência de associações de ideias
geralmente inconscientes, o hábito de fumar fica então ligado a um prazer de
novo género, para o qual são necessárias uma certa maturidade e uma certa
iniciação. A criança julga adquirir a condição de homem ou de mulher por
intermédio do tabaco. Mas eu gostaria de acrescenta que esta explicação só é
válida para crianças de personalidade fraca e muito nervosas, cuja educação é
enfraquecida por carências dos pais (casais desunidos, má atmosfera familiar). Uma criança deficientemente estruturada por
tal ambiente terá maior propensão para começar a fumar.
https://oglobo.globo.com/sociedade/artigo-fumo-passivo-em-criancas-de-maes-fumantes-repercute-toda-vida-24286602
Finalmente, depois dos 15 anos, o adolescente já não
tem necessidade de elementos que lhe assegurem ser já um homem ou uma mulher.
As motivações características da adolescência são substituídas pelas
satisfações orais e sociais do cigarro e o hábito de fumar instala-se e passa a
ser, em si próprio, uma necessidade.
http://payro.sejose.com/tween-e-adolescente-saude-16
É interessante
acentuar que, ao longo de todo este processo, as crianças e os jovens analisam
com lucidez as fases por que vão passando. De facto, 62% deles são da opinião
de que um jovem que fuma é uma pessoa fraca que não consegue resistir às
influências alheias!
E se, por motivos específicos da adolescência, a
adesão ao tabaco é um jogo entre os jovens e adultos, tanto os pais como os
professores têm nesse jogo uma importância determinante.
O consumo de tabaco pelas mulheres está em constante
aumento – paralelamente ao seu «advento social». As mulheres novas, em contacto
com homens que trabalham e fumam, não têm motivos nenhuns para renunciarem ao
hábito de fumar: pelo contrário, não podem se não reforçá-lo; de modo que, ao
passo que na idade de 60 anos há uma mulher fumadora para cada cinco homens que
fumam, aos 18 anos há tantas fumadoras como fumadores. E assim o hábito de
fumar irá gradualmente igualizar-se entre os dois sexos.
Uma prevenção bem organizada não começa pelo próprio.
Enquanto 36% da população adulta reconhecem que fumam, essa proporção passa para 57%
entre médicos – percentagem bastante superior à da classe etária mais
fumadora, a dos 18 aos 24 anos, que fuma 50%. Façam o que eu diga ...
Fonte:
Roger, Jean Luc; Como Deixar de Fumar; Publicações Dom Quixote, 1984,
71308
Sem comentários:
Enviar um comentário