Lembre-se da última vez que esteve com gripe. Sentia-se
miserável, não sentia? O nariz a pingar, dores no corpo, dores de garganta ,
tosse persistente e uma absoluta falta de energia. O mais provável era que só
tivesse vontade de se enroscar na cama a dormir. E era exatamente o que devia
fazer. O seu corpo está a tentar reconstruir-se com o sono. Existe uma associação
íntima e bidirecional entre o seu sono e o sistema imunitário.
O sono combate a infeção e a doença libertando todo
o tipo de artilharia que existe no seu arsenal imunitário, cobrindo-o de proteções.
Quando realmente adoece, o sistema imunitário estimula ativamente o sono,
exigindo mais tempo de descanso na cama para ajudar aos esforços de guerra. Reduzir
o sono durante uma única noite faz com que o manto invisível da resiliência
imunitária seja bruscamente arrancado do seu corpo.
Não é preciso passar por muitas noites de sono
insuficiente para o corpo ficar imunologicamente debilitado, e neste contexto a
problemática do cancro torna-se relevante.
Um número proeminente de estudos epidemiológicos
relata que o trabalho por turnos, e a perturbação dos ritmos circadianos e o
sono que provoca, aumentam consideravelmente a possibilidade de a pessoa vir a desenvolver inúmeros tipos de cancro.
Até à data, estes dados incluem associações com
cancro da mama, cancro da próstata, cancro do colo do útero ou do endométrio e
cancro do cólon.
Incentivada pela força das provas que se acumulam,
a Dinamarca tornou-se recentemente no primeiro país a pagar uma indemnização a
mulheres que tenham desenvolvido cancro da mama depois de anos de trabalho por
turnos noturnos em empregos sob alçada do governo, como enfermeiras e
assistentes de voo.
https://www.mdpi.com/2072-6694/13/6/1470
Assim, um sono de pouca qualidade aumenta o risco
de desenvolvimento do cancro e, quando este já está estabelecido, promove um
fertilizante virulento para o seu desenvolvimento veloz e descontrolado. Não dormir
o suficiente quando se combate um cancro pode ser equivalente a deitar uma
gasolina numa fogueira agressiva já acesa. Isto pode parecer um pouco
alarmista, mas as provas científicas que ligam a perturbação do sono ao cancro
são perniciosas que a própria Organização Mundial de Saúde classificou os
turnos da noite como «provavelmente carcinogénicos».
Fonte: Walker, Matthew; Porque dormimos?;
Men’s , fevereiro 2019, 978-989-8892-25-6 Pág 201 à 206
https://www.pcp.pt/reforca-direitos-dos-trabalhadores-no-regime-de-trabalho-nocturno-por-turnos-1
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