Seguramente já se
deparou com alguma criança cujo comportamento o fez pensar: “Que grande birra!
Que criança tão desobediente”!... Mas… e se, na realidade, aquilo que viu não
tiver sido oposição, desafio, mau comportamento ou desobediência?!... E se, na realidade,
aquele comportamento tiver sido uma manifestação de ansiedade?!
Regra geral, quando uma criança se sente
triste, chora ou fica mais “parada” ou “cabisbaixa”… Quando uma criança se
sente envergonhada, pode baixar a cabeça, corar e até tentar esconder-se.
Para cada emoção, poderíamos encontrar
uma descrição que se crê ser a sua única e típica forma de expressão. Sem a
presença dos sinais que acreditamos representarem uma determinada emoção,
facilmente assumimos que essa emoção não está lá ou não está a ser sentida.
Ao fazer esta interpretação, muitas
vezes inconscientemente, corremos o risco de não sermos eficazes na forma como
vamos acolher, validar, empatizar e, principalmente, reagir à emoção que aquela
criança está a sentir.
A expressão das emoções pode resultar de uma interação entre diversos fatores,
como o temperamento, os traços característicos do funcionamento cognitivo e
emocional, ou as memórias, entre outros.
Esta interação pode contribuir para
manifestações paradoxais das emoções, ou seja, emoções como a tristeza, a
vergonha ou o medo podem manifestar-se através de uma crescente irritabilidade,
comportamentos de oposição ou até pelas típicas birras.
Um bom exemplo disto são os comportamentos interpretados como oposição que, na
verdade, podem, naquele momento, ter como função responder à emoção ou geri-la.
Imagine uma criança que, num restaurante, recusa comer. Imagine que, quando o
adulto insiste para que coma, ela grita, chora e tenta sair do lugar… na
realidade, esta criança pode estar a sentir medo de, por exemplo, se engasgar
ou vomitar em público…. Ou imagine uma criança que recusa intensamente fazer os
trabalhos de uma determinada disciplina. Esta criança pode recusar esta tarefa
por prever dificuldade e sentir medo de errar ou ter má nota!
Em qualquer situação, é importante clarificar se os comportamentos de
“oposição” poderão ser apenas um evitamento que permite à criança afastar-se da
situação que lhe provoca uma emoção desconfortável. A oposição pode ser uma
expressão de muitas emoções e não representa necessariamente um “mau
comportamento”.
É frequente encontrar crianças com dificuldade em identificar e/ou comunicar o
que sentem. É importante que os adultos procurem descodificar essas emoções e
ajudar a própria criança a descodificá-las… para que se possa descobrir que
emoção se esconde para lá do lado visível que é o comportamento.
Daniela Nascimento, Técnica Superior de
Educação Especial e Reabilitação
Maria João Silva, Psicóloga & Psicoterapeuta
https://estrelaseouricos.sapo.pt/temas/pedagogia/sera-a-quotoposicaoquot-o-inverso-da-ansiedade-26776.html
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