“Embora já todos tenhamos registado o facto de que
alguém está a dormir, ou de que estivemos a dormir, a verificação científica
padrão de sono exige o registo de sinais, através do uso de elétrodos, emitidos
por três regiões distintas: (1) atividade das ondas cerebrais, (2) atividade
dos movimentos oculares, e (3) atividade muscular. Coletivamente, estes sinais
são catalogados com o termo «polissonografia» (PSG), que significa uma leitura (graph)
do sono (somnus) feita a partir de vários sinais (poly).
https://www.upcare.pt/exames-medicos/polissonografia
Foi através do uso desta coleção de medidores que em
1952 foram feitas as maiores descobertas em toda a pesquisa sobre o sono na Universidade
de Chicago por Eugene Aserinsky (na altura aluno ainda em formação) e pelo Professor
Nathaniel Kleitman, famoso pela experiência da Caverna Mammoth.
Aserinsky andava a documentar cuidadosamente os padrões
do movimento ocular de crianças humanas durante o dia e durante a noite. Reparou
que havia períodos de sono em que os olhos se agitavam rapidamente de um lado
para o outro por baixo das pálpebras. Mais do que isso, estas fases de sono pareciam
sempre ser acompanhadas por uma atividade extraordinária das ondas cerebrais,
quase idênticas às observadas num cérebro acordado. Intercalados entre estas
fases de sono mais ativo, pareciam existir períodos de sono mais longos em que
os olhos se acalmavam e sossegavam. Durante estes períodos de tempo
quiescentes, as ondas cerebrais também abrandavam a sua atividade, ondulando
lentamente.
Como se isto não fosse suficientemente estranho, Aserinsky
observou que ambas as fases de sono (sono com movimento ocular e sono sem
movimento ocular) se repetiam inúmeras vezes num padrão moderadamente regular
ao longo da noite.
Com um ceticismo clássico próprio de um professor, o
seu mentor, Kleitman, quis ver os resultados reproduzidos antes de considerar a
sua validade. Com a propensão que já tinha para incluir os seus entes mais queridos
nas suas próprias experiências, escolheu então a sua filha mais pequena, Ester,
como sujeito desta investigação. As descobertas confirmaram-se. Neste instante, Kleitman e Aserinsky aperceberam-se da descoberta fundamental que tinham
acabado de fazer: os humanos não se limitam a dormir, mas oscilam entre dois
ciclos de sono muito distintos. Nomearam as duas fases de sono de acordo com a
definição das suas caraterísticas oculares: sono com movimento não rápido do
olho, ou NREM, e sono com movimento rápido do olho, ou REM.
Juntamente com a assistência de outro aluno de Kleitman,
William Dement, Kleitman e Aserinsky demonstraram ainda que o sono REM, no qual
a atividade cerebral é quase idêntica à que registamos quando estamos
acordados, estava intimamente ligada à experiência a que chamamos sonhar e que é
muitas vezes descrita como sonho profundo.
https://www.salud180.com/salud-dia-dia/3-excelentes-puntos-para-dormir-profundamente
O sono NREM foi profundamente examinado nos anos
subsequentes e dividido entre quatro fases distintas, com o nome pouco imaginativo
de fase 1 a 4 do sono NREM, consoante a sua profundidade (nós, os
investigadores do sono, somos pessoas muito criativas). Assim as fases 3 e 4 são
as fases do sono NREM mais profundas que experimentamos, sendo que a «profundidade»
é definida pela dificuldade em acordar um individuo que esteja nas fases 3 e 4
do sono NREM comparada com a dificuldade em acordá-lo das fases 1 e 2.”
Fonte: Walker, Matthew; Porque dormimos?; Men’s Journal, fevereiro 2019,
978-989-8892-25-6 Pág 52 a 54
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