As profundezas do vício “quando eu quiser, eu paro”
Veja o que dizem os especialistas sobre os nossos padrões
comportamentais e de que maneira podemos identificar cada um deles para
tratá-los da maneira mais adequada, sem maiores prejuízos à nossa saúde
Cada vez que experimentamos uma sensação positiva,
o nosso cérebro regista essa informação e pede que a façamos novamente.
Isso é possível através de um neurotransmissor
conhecido como dopamina, um mensageiro responsável por levar a informação do
cérebro para as células do sistema nervoso.
A dopamina é capaz de transferir ao organismo
sensações de prazer e bem-estar, podendo ser acionada por situações como comer
um chocolate, dar um abraço em quem amamos, assistir um filme ou jogar
videogame, praticar desporto e até mesmo pelo consumo de substâncias lícitas e
ilícitas. Um mecanismo que faz com que nós, seres habituados a padrões
repetitivos e que valorizam a sensação de recompensa, sejamos inclinados a
comportamentos que levam aos hábitos, compulsões, dependências e vícios. Termos
que muitas vezes se confundem e acabam sendo utilizados como se fossem sinônimos,
mas que na verdade são conceitos que explicam níveis diferentes de
comportamentos, com impactos e consequências também distintas para a saúde.
Saber diferenciar cada um desses comportamentos é
fundamental para ajudar a nos entender melhor e, mais do que isso, é importante
para indicar quando é preciso buscar um tratamento.
Hábito
Para a Dra. Flávia Coimbra Pontes Maia, médica
especializada em endocrinologia e metabologia, cooperada da Unimed-BH, a
diferença entre os termos que definem padrões de comportamentos que podem ser
nocivos está nas ações que cada um deles causa no organismo. O hábito, por
exemplo, caracteriza-se por ações que se aprendem e se repetem regularmente de
forma consciente ou não. Quando imaginamos alguém que, todos os dias, ao acordar
tem o costume de tomar uma bela chávena de café e se sente bem para seguir o
seu dia, podemos dizer com certeza que essa pessoa tem um hábito.
Compulsão
Agora imagine a mesma situação, só que desta vez,
não são ainda 10h, a pessoa já tomou 5 chávenas de café e, mesmo assim, ainda
não se deu por satisfeita. Segundo a especialista, quando isso acontece,
trata-se de compulsão. “A necessidade de tomar café várias e várias vezes
durante o dia, ou comer de maneira exagerada, sem se sentir saciada daquele
desejo, sem dúvida é uma compulsão. Nesses casos, o cérebro já não consegue
reconhecer mais um estado de satisfação”, explica.
Vício
Já o vício, garante a Dra. Flávia, envolve uma perturbação mais grave na vida de quem o
adquire por conta da necessidade extrema de repetir uma ação várias vezes.
“Nesses casos, a pessoa tem necessidade de repetir uma ação, mesmo sabendo que
aquele ato repetido a exaustão vai trazer prejuízo para a saúde dela”,
salienta. Ela cita, como exemplo, pessoas que são viciadas em trabalho, os
chamados workaholics. “Viciados acabam perdendo o controle das suas ações”.
Segundo a especialista, um hábito pode se transformar em um vício. “Isso
acontece quando a pessoa já não consegue mais ter um prazer genuíno com um
determinado hábito, passando dos limites saudáveis”.
https://www.universalchurchusa.org/pt/post/a-verdadeira-origem-dos-vicios/
Dependência
No caso da dependência, afirma a médica, ela ocorre
quando o organismo se adapta a uma droga ou comportamento que, ao serem
interrompidos, causam transtornos físicos e mentais no indivíduo. Mal-estar,
desequilíbrio psicológico e abstinência são sensações causadas pela interrupção
de um ato repetido várias vezes. “Para obter a sensação de bem-estar o
dependente necessita, cada vez mais, repetir aquela ação”, reforça. A
especialista lembra do prejuízo social trazido pela dependência, já que a
pessoa não consegue mais cumprir com as suas obrigações, tanto profissionais
quanto em família e em sociedade.
Ajuda profissional
Para o cardiologista Dr. José Pedro Jorge Filho,
também cooperado da Unimed-BH, outro especialista ouvido pelo Bem Viver Em
Minas, é difícil para um paciente assumir que precisa de ajuda, o que pode
prejudicar a identificação dos problemas. Ele usa o tabagismo como exemplo.
“Para que uma pessoa possa parar de fumar é necessário
combater ao mesmo tempo o hábito e o vício. Sozinho, é muito difícil que o
indivíduo consiga bons resultados. A estratégia hoje está baseada em
medicamentos ou outros tratamentos para controlar o vício, para que a pessoa,
sozinha, consiga combater os hábitos”, garante. Além disso, assegura o
especialista, mesmo se propondo a parar de fumar, é importante que o fumante
conte com um apoio de um profissional
que pode ser um médico ou um terapeuta. “O fumador precisa da ajuda de alguém
que tenha empatia por ele, que seja capaz de compreender o seu problema e as
suas dificuldades, mas que também seja firme nos seus momentos mais frágeis,
quando for preciso relembrá-lo que é preciso seguir em frente”.
Danos à saúde
Agora que já entendemos as características que
levam a padrões de comportamento considerados nocivos, é importante saber que
eles podem trazer impactos para a saúde física e mental. De forma geral, os
especialistas no assunto garantem que qualquer comportamento pode se tornar
nocivo a partir do momento que o indivíduo perde o controlo sobre ele, podendo
causar desde danos para as funções cerebrais, como alterações de humor, perceção, consciência e quadros depressivos, até à saúde física, impacto
direto nos órgãos vitais como coração, pulmões e funções renais, entre outros.
“A lista é bastante extensa”, garante o Dr. José Pedro. Ele reforça que mais
importante do que conhecer as consequências é saber identificar, o quanto
antes, um comportamento considerado nocivo para que o paciente retome a sua
qualidade de vida para viver mais e melhor.