Maria Celeste Rocha Simões em 2005 fez uma dissertação
sobre os comportamentos de risco na adolescência. Iniciamo-nos na análise do
desenvolvimento da adolescência, com destaque principal para os principais
contextos onde decorre este desenvolvimento.
“A adolescência é um tempo de crescimento, de
desenvolvimento de uma progressiva maturidade a nível biológico, cognitivo,
social e emocional.
Nas sociedades modernas não existe um acontecimento
único que marque o fim da infância ou o início da adolescência. Esta transição
envolve um conjunto de mudanças graduais em múltiplas esferas da condição
humana, que ocorrem durante um período mais ou menos alargado, e que preenchem
toda a adolescência (V. Fonseca, 1986; Steinberg, 1998).
Como foi referido, a adolescência é um tempo de
grandes mudanças a vários níveis: físico, cognitivo, emocional e social. O
adolescente tem pois de se adaptar às novas circunstâncias, que lhe dão um novo
olhar sobre o mundo e sobre si próprio.
Várias teorias procuram explicar o desenvolvimento
humano. Algumas delas, as chamadas teorias de estádio como, por exemplo, a
teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget, a teoria epigenética de Erikson,
a teoria do desenvolvimento moral de Kohlberg, ou a teoria do desenvolvimento
interpessoal de Sullivan, salientam aspetos específicos na adolescência como
motores de evolução: a aquisição das operações formais, a procura e
estabelecimento de uma identidade pessoal, a aquisição de uma moral
convencional ou uma maior orientação para os amigos.
Outras teorias, como por exemplo a da aprendizagem
social, apresentam um processo global de aprendizagem independente da etapa da
vida do indivíduo, processo este responsável pela aquisição de grande parte do
reportório comportamental individual.
Outras falam de um conceito interessante, as “arenas de conforto”, como é o caso da
teoria focal de J. C. Coleman (1974), que refere que a adaptação às mudanças na
adolescência será mais fácil se o adolescente se sentir bem nos contextos que
lhe são significativos. Estes contextos são a família, os amigos e a escola.
Apesar de recentemente ter surgido uma teoria que
desvaloriza o papel da família no desenvolvimento do adolescente, a teoria da
socialização de grupo de J. R. Harris (1995), a maioria dos autores e da
investigação realizada em torno do papel da família, mostra que a família ocupa
um lugar de destaque na socialização do adolescente.
À família é atribuída a passagem de atitudes, valores
e normas de conduta que irão guiar o adolescente na sua vida presente e futura.
Os pais têm ainda a função de servir de apoio e
suporte afetivo, constituindo assim um elemento facilitador da adaptação do
adolescente às novas circunstâncias de vida.
Alguns jovens desenvolvem-se em contextos familiares
estáveis a nível emocional, social, económico, etc., o que faculta a passagem
do jovem pela adolescência. Outros porém, pertencem a famílias em situação de
desvantagem que muitas vezes constituem um risco adicional para além dos
inerentes à própria adolescência. (J. R. Harris, 1995)
Os amigos constituem um outro importante espaço de
desenvolvimento. Nesta fase da vida é atribuída uma especial importância aos
amigos.
Dada a sua similaridade em termos etários, estes são
uma boa fonte para comparação social a nível de valores e atitudes relacionadas
com formas de estar e de agir. Dados de estudos apontam a falta de amigos como
fator preditivo de problemas de saúde mental.
No entanto, os amigos são também uma fonte de
influência para o comportamento desviante. Encontra-se assim algo paradoxal: se
não se tem amigos, não se está bem; com amigos fica-se mal.
É claro que a realidade não é assim tão linear: nem
todos os amigos são fonte de más influências e nem todos os adolescentes se
deixam facilmente influenciar.
Por último a escola. A escola apresenta, tal como os
contextos anteriores, um forte impacto no ajustamento dos adolescentes. Dados
de vários estudos têm mostrado que a ligação à escola é importante para o
bem-estar do adolescente e constitui um importante fator de proteção contra o
comportamento desviante.
A perceção de um bom ambiente escolar e de segurança,
o sentimento de pertença à escola e de ligação com os colegas e com os
professores são fatores importantes para o sucesso escolar.
Ao longo deste capítulo, verificou-se que são
múltiplos os fatores que influenciam o desenvolvimento “positivo” ou
“negativo” na adolescência. Alguns jovens apresentam características,
comportamentos ou envolvimentos desfavoráveis a um desenvolvimento saudável. No
entanto, nem todos os jovens que entram em comportamentos desviantes se tornam
delinquentes.
Nem todos os jovens que fracassam na escola têm
necessariamente um futuro sem esperança. Nem todos os jovens que nasceram numa
família disfuncional irão constituir uma família moldada à semelhança da sua
herança ou vivência.
É que existem nas pessoas ou fora delas, fatores que
possibilitam ultrapassar o lado mais adverso da vida. Está-se a falar de resiliência. “
https://www.repository.utl.pt/bitstream/10400.5/6812/1/TD_Celeste%20Sim%C3%B5es.pdf