Young et al. (2003) postula que existem cinco
necessidades emocionais fundamentais para os seres humanos que podem estar na
base e na origem do mal estar psicológico, incluindo a ansiedade. Estas são as
necessidades que devem ser satisfeitas na primeira infância, período este que
vai desde o nascimento até aos seis anos de idade:
1.
Vinculação (apego)
segura aos outros (inclui segurança, estabilidade, nutrição e aceitação por
parte dos outros). Sem uma vinculação
segura na infância, em que a criança sente que pode confiar no outro, que o
outro é um porto seguro, dificilmente essa pessoa sentirá na idade adulta
segurança nos outros e em si própria. A segurança está ligada à autoestima,
autoconfiança e autonomia. Sem segurança nos outros e em si mesma, a pessoa não
se sentirá confiante e confortável para explorar o seu mundo. É por isso que
muitas vezes surge a ansiedade antecipatória e o medo do desconhecido, pois
nunca houve uma base de segurança durante a infância que tornasse a pessoa
autónoma e competente na sua própria pele; esta necessidade é importantíssima
na construção de um sistema de segurança forte.
2.
Autonomia,
competência e senso de identidade. Práticas parentais rígidas que não promoveram a
autonomia e as competências da criança irão provavelmente gerar adultos
inseguros e dependentes, com medo do mundo e com falta de propósito ou
identidade pois nunca tiveram espaço para explorarem o mundo por si sós;
3.
Liberdade para
expressar necessidades e emoções válidas. A inibição, castração e controlo constante dos
pais pode levar a que a criança sinta um grande desconforto em ser e sentir o
que é/sente. Pode até tornar-se um adulto muito crítico e punitivo, que não é
capaz de permitir-se falhar, pois nunca teve liberdade para se expressar e/ou
fracassar. Mais uma vez este fator está diretamente ligado à autonomia,
autoestima e autoconfiança. Se uma criança nunca foi estimulada a expressar-se
livremente, a falhar e a ser quem realmente é, com segurança, como poderá tornar-se
num adulto seguro e autónomo?
https://tudoela.com/estimular-autoconfianca-seu-filho/
4.
Espontaneidade e
brincadeira. A espontaneidade,
nas crianças é promovida através do brincar. A criança ao brincar livremente,
pensa e analisa a sua realidade, a sua cultura e o meio em que está inserida,
discutindo sobre regras e papéis sociais com os outros. Nas suas brincadeiras,
a criança aprende a conhecer, a fazer, a conviver e a ser, favorecendo o
desenvolvimento da autoconfiança, da curiosidade, da autonomia, da linguagem e
do pensamento. É através do brincar que a criança se expressa e é, e, como
vimos anteriormente, que constrói a sua identidade. Ao brincarem
espontaneamente, as crianças expõem os seus sentimentos, aprendem, constroem,
exploram, pensam, sentem, reinventam e movimentam-se. Fantasiando, a criança revive
angústias, conflitos, alegrias, desiste e refaz, deixando de lado a subjugação
às ordens e exigências dos adultos, inserindo-se na sociedade onde assimila
valores, crenças, leis, regras, hábitos, costumes, princípios e linguagens: os
mais pequenos são capazes de lidar com complexas dificuldades psicológicas
através do brincar. É importante que a criança construa livremente e com
segurança o seu próprio senso de identidade e aprenda a autorregular-se para
que se torne, mais tarde, um adulto seguro e confiante daquilo que é e quer
ser, que consegue superar dificuldades autonomamente;
5.
Limites realistas e
autocontrolo. O objetivo no
estabelecimento de limites é ajudar as crianças a desenvolverem autocontrolo e
auto direção para que se tornem adultos decididos e determinados nas suas
decisões, mas também autorregulados. Ao estabelecerem limites, os pais mostram
à criança o seu amor e preocupação («Eu importo-me contigo e quero que sejas
uma pessoa segura»), extremamente importantes na vinculação, ao mesmo tempo que
lhe proporcionam uma oportunidade para aprender o que é a responsabilidade e a
seguir uma direção de forma a obter resultados efetivos nas suas decisões de
vida, relações interpessoais, entre outros. O autocontrolo é extremamente
importante no que toca a aprender a gerir emoções e impulsos. Sem limites e
autocontrolo, a criança acaba por não aprender a regular as suas emoções e pode
comportar-se impulsivamente e até explosivamente.
Estas necessidades são universais. Todos a temos,
embora para algumas pessoas elas sejam mais fortes. Um indivíduo psicologicamente saudável é aquele que consegue atender de
forma adaptativa a essas necessidades emocionais básicas. Para que a
criança se torne um adulto saudável, terá de aprender a agir, ser e sentir
livremente e espontaneamente, sentindo-se segura nas suas próprias escolhas e
decisões e respeitando sempre o limite do outro.
Seromenho, S. (2022). Não é Loucura, é Ansiedade -
Primeiros Socorros para Combateres a Doença do Século. Lisboa: Contraponto.