terça-feira, 6 de julho de 2021

Aprender a dar às coisas que nos acontecem a importância que realmente têm

 

Este título corresponde a um princípio que poderíamos denominar lógica da avaliação; trata-se da capacidade para avaliar com toda a sensatez os factos que nos sucedem. É fácil de dizer, mas difícil de por em prática. Para o fazer na nossa vida de todos os dias, como modo de combater a ansiedade, são necessárias as seguintes premissas:

1.     Saber avaliar os acontecimentos com uma visão ampla: significa que somos capazes de olhar de longe, sem nos deixarmos ficar no episódio negativo desse momento ou dessa circunstância. Para isso é necessário ter boa inteligência emocional, utilizar bem todos os componentes da afetividade (sentimentos, emoções, paixões, etc.) e os instrumentos da razão (a lógica, o pensamento operativo, sermos muito práticos quando se trata de elaborar uma resposta, etc.) e evitar a paixão excessiva ou a reação brusca que se afasta do que deve ser normal.

2.     Desdramatizar: evitar converter um problema real num drama. Muitas vezes pode ser pela rapidez dos acontecimentos ou pela surpresa do seu aparecimento. Avaliar os acontecimentos.

3.     Ter uma reação que seja proporcional ao acontecimento: é afinal uma aprendizagem inserida na experiência da vida, um saber acumulado que foi sendo depositado na pessoa ao longo da sua história de vida e que tem uma enorme importância.”

 


https://observador.pt/2017/02/18/enrique-rojas-90-das-pessoas-que-tem-crises-de-ansiedade-curam-se/

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: ROJAS, Enrique – SOS ANSIEDADE; 1ª ed. Lisboa: Matéria-Prima Edições, 2017. ISBN 978-989-769-148-5

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Prevalência de Crianças Portuguesas Expostas ao Fumo Ambiental do Tabaco em Casa e no Carro

 

“ A exposição das crianças ao Fumo Ambiental Tabaco (FAT) em casa e no carro é elevada e está associada com a prevalência de consumo de tabaco pelos pais, com o facto de habitarem com fumadores e com o nível socioeconómico dos pais.

Apesar de haver regras para o comportamento de fumar em casa e no carro, estas não evitam a exposição das crianças ao FAT. Especialmente grave é a prevalência de crianças asmáticas expostas.



https://www.antenaminho.pt/noticias/uma-em-cada-dez-criancas-expostas-a-fumo-de-tabaco-em-casa-e-no-carro/2822

 

O estudo de Pargana et al., (2001), com vista a determinar a influência da exposição ao FAT e à exacerbação das crises de asma infantil, revelou que o comportamento tabágico dos pais é um relevante fator de risco na saúde das crianças.

Ainda que a natureza do estudo não nos permita concluir a existência de uma relação causal entre asma e a exposição, a prevalência de consumo de tabaco na presença destas crianças é um dado de relevante importância.

Face a estes resultados, é relevante implementar medidas eficazes de controlo de tabagismo, promovendo a adoção de comportamentos que evitem a exposição das crianças ao FAT em casa e no carro, prevenindo a iniciação do comportamento tabágico e apoiando a cessação do comportamento em adultos jovens.

A diminuição da prevalência do tabagismo dos pais será um fator muito importante na prevenção da exposição das crianças ao FAT.

As políticas de controlo de tabagismo deverão privilegiar as medidas integradas e dirigidas aos grupos sociais mais vulneráveis. Campanhas de educação para a saúde focando os malefícios da exposição ao FAT e a vulnerabilidade das crianças devem constituir-se como uma prioridade.

Neste âmbito, torna-se relevante discutir falsos mitos e crenças associados à exposição, como por exemplo: “fumar no carro, quando a criança não está presente, evita a contaminação pelo FAT” ou “fumar na cozinha ou à janela não expõe a criança ao FAT”.

A escola, a comunidade e os profissionais de saúde deverão atuar proativamente e colaborar para que este objetivo seja alcançado. A nível de políticas de saúde, considera-se imperioso que o legislador proíba o ato de fumar no interior de um automóvel pessoal, tal como já acontece nos transportes públicos.

A prevenção do consumo de tabaco passa também pela criação e implementação de programas preventivos, como o programa Domicílios Sem Fumo, desenvolvido em Braga, e que está a ser melhorado no âmbito do projeto de que este estudo faz parte.

O Domicílios Sem Fumo é um programa de prevenção da exposição das crianças ao FAT, inspirado numa intervenção desenvolvida pela U.S. Environmental Protection Agency: The ABCs of Secondhand Smoke – Training Module for Child Care Providers (2004).



https://slideplayer.com.br/slide/1251313/

 

Tem como principal finalidade aumentar o número de pais/mães que não fumam e/ou não permitem que se fume em casa e no carro, capacitando os alunos a protegerem-se desta agressão, sendo estes os promotores da mudança de comportamento dos pais.

O programa foi desenhado para ser aplicado em contexto escolar, na sala de aula, pelos professores, que recebem formação prévia para o efeito e é constituído por cinco sessões:

1. Pequena abordagem aos perigos do fumo ativo e passivo do tabaco (foi fornecida aos professores uma apresentação sobre o tema);

2. Elaboração, pelas crianças, de pequenos trabalhos (cartas, desdobráveis e fundamentalmente um dístico de não fumador) para a escola enviar aos pais fumadores;

3. Exercícios de role-playing, em díades de alunos, nos quais um representa o papel de criança e outro de pai/mãe, onde a criança tenta convencer o pai ou mãe a não fumar em casa;

4. Envio de um desdobrável aos pais sobre fumo ativo e passivo;

5. Assinatura de uma declaração entre pai e filho, em que o primeiro se compromete com a criação de um domicílio sem fumo.

No que respeita aos profissionais de saúde, como defende a pediatra Henedina Antunes (Antunes, Campos & Precioso, 2011), “o papel do pediatra é dedicar tempo a falar com os pais (…) e ajudá-los a adoptar estratégias para não fumarem no domicílio e no carro, ou idealmente, não fumarem” (p. 178).

É fundamental abordar este tema nas consultas, assim como se abordam outros fatores de risco, pois trata-se de momentos chave de intervenção breve.

Os profissionais de saúde (médico de família, pediatra, obstetra, pneumologista, entre outros), enquanto agentes privilegiados de educação e promoção da saúde, devem ter um papel preponderante na sensibilização dos pais para que não fumem, pelo menos em casa, devendo as escolas de formação incluir no seus curriculos, como estabelece a lei, a temática da prevenção e do tratamento do uso e da dependência do tabaco.

Fonte: transcrição da conclusão de:



http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/65387/1/DGS_Relat%C3%B3rio%20de%20Estudo%202018_Preval%C3%AAncia%20de%20crian%C3%A7as%20portuguesas%20dos%200%20aos%2010%20anos%20expostas%20ao%20fumo%20ambiental%20do%20tabaco%20em%20casa%20e%20no%20carro.pdf

 

sábado, 3 de julho de 2021

Aprendizagem sono-da-noite-anterior

 

 “Dormir antes de aprender renova a nossa capacidade de fazer inicialmente novas memórias. Isto acontece todas as noites sem falha. Enquanto estamos acordados, o cérebro está constantemente a adquirir e a absorver novas informações (intencionalmente ou não). As oportunidades de memorização de facto mais fugazes têm origem em partes específicas do cérebro. Para informações baseadas em factos – o que a maior parte de nós classifica de aprendizagem tipo – como memorizar o nome de alguém, um número de telefone ou o local onde estacionámos o carro -, uma região cerebral chamada hipocampo é uma estrutura longa, com a forma de um dedo, aninhada em cada um dos lados do cérebro, e oferece um reservatório a curto prazo, uma espécie de armazém de informações temporário, onde acumula novas memórias. Infelizmente o hipocampo tem uma capacidade de armazenagem limitada, quase como um rolo de uma máquina fotográfica, ou, para usar uma analogia mais moderna, uma unidade de armazenamento USB. Se excedermos a sua capacidade, corremos o risco de não conseguirmos adicionar mais informação, ou de registar uma nova informação por cima da outra já existente, o que é igualmente mau: este é o percalço a que esquecimento por interferência.

Então como lida o cérebro com este desafio da capacidade de memória? Há alguns anos, a minha equipa de investigação questionou-se se o sono ajudava a resolver este problema de armazenamento através de um mecanismo de transferência de ficheiros. Examinámos se o sono transportaria as memórias recém-adquiridas para um local mais permanente- com capacidade de retenção a longo prazo – dentro da estrutura cerebral, libertando assim a capacidade da memória a curto prazo, possibilitando a renovada habilidade de novas aprendizagens.



https://italo.com.br/blog/sem-categoria/memoria/

Começámos a testar esta teoria através das sestas diurnas. Recrutámos um grupo de jovens adultos saudáveis e dividimo-los ao acaso em dois grupos: um que fazia sestas e outro que não fazia sestas. Ao meio-dia, todos os participantes passavam por uma rigorosa aprendizagem (uma centena de correspondências entre nomes e rostos) cuja intenção era saturar o hipocampo, a região de armazenagem de memórias a curto prazo. Como era esperado, ambos os grupos tiveram um desempenho semelhante. Pouco depois, o grupo que fazia sestas dormiu durante 90 minutos no laboratório do sono, com elétrodos colocados sobre as suas cabeças para medir o sono. O grupo que não fazia as sestas permaneceu acordado no laboratório e desempenhou tarefas simples como navegar na internet ou jogar jogos no tabuleiro. Mais tarde no mesmo dia, por volta das seis da tarde, todos os participantes passaram por nova ronda de aprendizagem intensa em que tentaram decorar um novo conjunto de factos e guardá-los nos seus reservatórios de memórias a curto prazo (mais uma centena de correspondências entre nomes e rostos). A nossa pergunta era simples: A capacidade de aprendizagem do cérebro humano diminui com o tempo de vigília contínuo ao longo do dia e, se sim, pode o sono reverter este efeito de saturação e restaurar a capacidade de aprendizagem?

O grupo que esteve acordado durante todo o dia tornou-se progressivamente pior no processo de aprendizagem, apesar de a sua capacidade de concentração permanecer estável (determinada por testes de atenção e resposta cronometrada diferentes). Em contraste, o grupo que dormiu a sesta teve resultados bastante melhores e, na verdade, até melhorou a sua capacidade de memorização de factos. A diferença entre ambos os grupos às seis da tarde foi significativa: o grupo que dormiu a sesta teve uma vantagem de 20% de aprendizagem.

Depois de observarmos que o sono restaura a capacidade de aprendizagem do cérebro, criando espaço para novas memórias, fomos à procura do que existia realmente no sono que tornava este processo de restauro possível e benéfico. Encontrámos a nossa resposta ao analisar as ondas cerebrais do grupo que dormiu a sesta. A restauração da capacidade de memorização estava relacionada com a fase 2 do sono NREM, que é leve, e mais especificamente com as explosões curtas e poderosas de atividade cerebral chamadas fusos do sono.


identificação de dois Padrões de fusos do sono em segmento do registro de EEG

https://www.researchgate.net/

Quantos mais fusos do sono uma pessoa obtiver durante a sesta, maior será a restauração da sua capacidade de aprendizagem depois de acordar.

Relacionando este estudo com a população mais velha, descobrimos: quanto menos fusos de sono um cérebro idoso produz em determinada noite, mais baixa será a sua capacidade de aprendizagem no dia seguinte. Esta ligação entre o sono e a aprendizagem é mais um motivo para a medicina começar a levar mais a sério as queixas dos mais velhos relacionados com o sono; por outro lado, ela também incentiva investigadores, como eu, a encontrar novos métodos não farmalógicos para melhorar o sono na população idosa de todo o mundo.”

Fonte: Walker, Matthew; Porque dormimos?; Men’s Journal, fevereiro 2019, 978-989-8892-25-6 Pág 125 a 128