quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Auto identificação do sono

 “Como sabe, por si, que dormiu de noite? Faz esta autoavaliação muito mais frequentemente do que a do sono dos outros. Com sorte, todas as manhãs regressa ao mundo dos acordados sabendo que esteve a dormir até então.[1]Esta autoavalição de sono é tão sensível que pode ir até mais além e determinar se dormiu bem ou se dormiu mal. Esta é outra forma de mensurar o sono – uma avaliação fenomenológica na primeira pessoa que é distinta dos sinais que usa para determinar o sono nas outras pessoas.

Também aqui existem indicadores universais que oferecem conclusões convincentes quanto ao sono – na verdade são dois. O primeiro é a perda de consciência externa – paramos de ter a perceção do mundo exterior. Já não temos consciência do que nos rodeia, pelo menos não explicitamente. Na realidade, os ouvidos continuam a «ouvir»; os olhos, apesar de estarem fechados, continuam a ter a capacidade de «ver». Este facto é similarmente verdade para todos outros órgãos sensoriais como o nariz (olfato), a língua (paladar) e a pele (toque).

Todos estes sinais continuam a inundar o centro do seu cérebro, mas é aqui, nesta zona de convergência sensorial, que a viagem acaba quando está a dormir. Estes estímulos são bloqueados por uma barricada percetiva localizada numa estrutura cerebral chamada tálamo. O tálamo, um pequeno e suave objeto de forma oval, mais pequeno do que um limão, é a entrada sensorial do cérebro. O tálamo decide que sinais sensoriais podem passar pela entrada e os que ficam à porta. Caso venham a conseguir a privilegiada passagem, são enviados para o córtex, no cimo do cérebro, onde são conscientemente percecionados. Ao fechar a entrada no início do sono saudável, o tálamo impõe um bloqueio sensorial ao cérebro, evitando que os sinais continuem a viajar até ao córtex. Como resultado, já não está consciente da transmissão sensorial efectuada pelos seus órgãos sensoriais exteriores. Neste momento, o seu cérebro perdeu contacto com o mundo exterior que o rodeia. Dito de outra forma: está a dormir.

https://www.vinilepurpurina.com/adormecer-um-bebe-em-10-minutos-ou-54640

O segundo indicador da sua autoavaliação do sono é uma sensação de distorção de tempo que é experimentada de duas formas contraditórias. A um nível mais óbvio, perde o sentido consciente do tempo em que está a dormir, o que corresponde a um vazio cronométrico. Pense na última vez que adormeceu a bordo de um avião. Quando acordou, o mais provável é que tenha olhado para o relógio para ver quanto tempo esteve a dormir. Porquê? Porque a sua capacidade explicita de manter a contagem do tempo foi ostensivamente interrompida enquanto esteve a dormir.

https://s2.glbimg.com/ZXnPkId49jbKnAuuijUcsVhsSrM=/620x430/e.glbimg.com/og/ed/f/original/2016/12/30/gettyimages-493345172.jpg

Mas enquanto o registo consciente do tempo se perde quando está a dormir, a um nível não consciente, o tempo continua a ser catalogado no cérebro com uma precisão incrível. Tenho a certeza de que já passou pela experiência de acordar a uma hora específica no dia seguinte. Talvez tivesse de apanhar um voo cedo. Antes de ir para a cama, colocou diligentemente o despertador para as seis da manhã. Mas, como por milagre, acorda às 5:58, sem despertador, dois  minutos antes de o alarmar tocar. Segundo parece, o seu cérebro continua a ser capaz de manter um registo de tempo extraordinário enquanto está a dormir. À semelhança de muitas operações que ocorrem no cérebro, não tem simplesmente acesso a este conhecimento de precisão temporal enquanto está a dormir. Tudo passa sob o radar da consciência, vindo à superfície apenas quando é necessário.

Existe uma última distorção temporal que merece ser mencionada – a dilatação de tempo nos sonhos, para lá do próprio sono. O tempo não é exatamente o tempo enquanto estamos a sonhar. Na maior parte das ocasiões é prolongado. Pense na última vez que carregou no botão «adiar» no seu despertador, depois de acordar de um sonho. E volta imediatamente a sonhar. Depois dos cinco minutos, o despertador volta a tocar como lhe compete; no entanto, a sensação que tem é de que não passaram os cinco minutos. Durante estes cinco minutos de tempo verdadeiro pode ter sentido que esteve a sonhar durante uma hora, talvez mais. Ao contrário da fase do sono em que não está a sonhar e, portanto perde toda a noção de tempo, nos sonhos continua a sentir a sua passagem. Ela só não é particularmente precisa – na maior parte das ocasiões, o tempo dos sonhos estende-se ou prolonga-se para lá da passagem de tempo real.

https://medium.com/@eltonwade/n%C3%B3s-n%C3%A3o-podemos-alterar-o-fluxo-do-tempo-mas-de-acordo-com-a-f%C3%ADsica-podemos-dobr%C3%A1-lo-4da74d4bcdba

Embora não se entendam plenamente as razões para esta dilatação do tempo, o registo de experiências recentes de células cerebrais de ratinhas oferecem-nos pistas atraentes. Nesta experiência, permitiu-se aos ratinhos percorrer um labirinto. À medida que eles aprendiam a disposição espacial do labirinto, os investigadores registaram a assinatura dos seus padrões cerebrais. Os cientistas não pararam de registar os padrões de células impressas com as memórias quando os ratinhos adormeceram. Continuaram a escutar os seus cérebros durante as diferentes fases do sono, incluindo a fase REM (movimento rápido do olho), a fase em que a maior parte dos humanos sonham.

O primeiro resultado impressionante foi que a assinatura dos padrões cerebrais que ocorreu enquanto os ratinhos aprendiam a orientar-se no labirinto reapareceu repetidamente durante o sono. Ou seja, as memórias estavam a ser «reproduzidas» ao nível da atividade cerebral enquanto os ratinhos dormiam. O segundo resultado ainda mais espantoso, foi a velocidade da reprodução. Durante o sono REM, as memórias estavam ser reproduzidas bastante mais devagar: a apenas um quarto de velocidade medida quando os ratinhos estavam acordados e no labirinto. Esta revisão neural lenta dos eventos do dia é a melhor prova de que dispomos até à data para explicar as nossas próprias experiências de dilatação de tempo no sono REM humano. Esta dramática desacelaração do tempo neural pode ser o motivo pelo qual acreditamos que a nossa vida nos sonhos dura mais do que os nossos despertadores indicam.

 

 

Fonte: Walker, Matthew; Porque dormimos?; Men’s Journal, fevereiro 2019, 978-989-8892-25-6 Pág 50 a 52



[1] Algumas pessoas que sofrem de um tipo específico de insónia não conseguem avaliar com precisão se dormiram de noite ou não. Como consequência esta «perceção imperfeita do sono», substimam a quantidade de sono efetivo que conseguiram obter.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Como se começa a fumar

 

"Recordar como foi a primeira vez...Correndo embora o risco de forçar portas já abertas, gostaria de concretizar alguns fenómenos já bem conhecidos.

Há em primeiro lugar as influências sociais. São amplamente desenvolvidas pela ação perniciosa, e muito eficaz, da publicidade. O aumento da influência dos meios de comunicação social pode explicar o paralelo aumento do consumo do tabaco nos últimos anos. As recentes medidas contra o tabaco vieram, certamente, moderar a situação; mas os atrativos do cigarro e a significação que lhe é atribuída têm origem em outras motivações que são tanto ou mais fortes que essas. Alguns exemplos: o charuto a ideologia da burguesia ou os simpatizantes do movimento catrista, o requintado cigarro de filtro, o cigarro «popular», o cigarro enrolado à mão dos ecologistas...

Nas crianças, o papel iniciático do cigarro, que é assimilar a entrada no mundo dos adultos, sempre teve um certo peso. A criança pode ser levada pelo exemplo dos pais: e a probabilidade de uma criança adquirir o hábito de fumar é tanto maior quanto os seus pais o tiveram também. Mas as crianças de 8 a 10 anos de idade são naturalmente hostis e mostram-se intrigadas com a atitude dos pais que fumam. Na falta de resposta para as suas dúvidas, são levadas a atribuir ao cigarro uma auréola misteriosa. Na sequência de associações de ideias geralmente inconscientes, o hábito de fumar fica então ligado a um prazer de novo género, para o qual são necessárias uma certa maturidade e uma certa iniciação. A criança julga adquirir a condição de homem ou de mulher por intermédio do tabaco. Mas eu gostaria de acrescenta que esta explicação só é válida para crianças de personalidade fraca e muito nervosas, cuja educação é enfraquecida por carências dos pais (casais desunidos, má atmosfera familiar). Uma criança deficientemente estruturada por tal ambiente terá maior propensão para começar a fumar.

https://oglobo.globo.com/sociedade/artigo-fumo-passivo-em-criancas-de-maes-fumantes-repercute-toda-vida-24286602

Mais tarde, por volta dos 13 ou 14 anos, o contacto com o tabaco é largamente condicionado pelo mimetismo e pelo sistema cultural próprio da adolescência. Ao constituir os seus grupos de amigos, os adolescentes reproduzem nessa micro sociedade a sociedade dos adultos, que com ela pretendem contrabalançar. O adolescente que procura a sua identidade é levado a criar outros laços; e nesse âmbito se desenvolve a significação do cigarro como símbolo de autonomia e sinal de reconhecimento da personalidade. Verifica-se então o arrastamento dos mais jovens pelos mais crescidos. Esta ação é realmente semelhante à de um rolo compressor: a proporção dos jovens que fumam regularmente triplicou em poucos anos. O grau de resistência à pressão do grupo é, evidentemente, muito variável; mas os factores que o condicionam também aí se encontram estreitamente relacionados com o papel desempenhado pelos pais.

Finalmente, depois dos 15 anos, o adolescente já não tem necessidade de elementos que lhe assegurem ser já um homem ou uma mulher. As motivações características da adolescência são substituídas pelas satisfações orais e sociais do cigarro e o hábito de fumar instala-se e passa a ser, em si próprio, uma necessidade.

http://payro.sejose.com/tween-e-adolescente-saude-16

É interessante acentuar que, ao longo de todo este processo, as crianças e os jovens analisam com lucidez as fases por que vão passando. De facto, 62% deles são da opinião de que um jovem que fuma é uma pessoa fraca que não consegue resistir às influências alheias!

E se, por motivos específicos da adolescência, a adesão ao tabaco é um jogo entre os jovens e adultos, tanto os pais como os professores têm nesse jogo uma importância determinante.

O consumo de tabaco pelas mulheres está em constante aumento – paralelamente ao seu «advento social». As mulheres novas, em contacto com homens que trabalham e fumam, não têm motivos nenhuns para renunciarem ao hábito de fumar: pelo contrário, não podem se não reforçá-lo; de modo que, ao passo que na idade de 60 anos há uma mulher fumadora para cada cinco homens que fumam, aos 18 anos há tantas fumadoras como fumadores. E assim o hábito de fumar irá gradualmente igualizar-se entre os dois sexos.

Uma prevenção bem organizada não começa pelo próprio. Enquanto 36% da população adulta reconhecem que fumam, essa proporção passa para 57% entre médicos – percentagem bastante superior à da classe etária mais fumadora, a dos 18 aos 24 anos, que fuma 50%. Façam o que eu diga ...

 

Fonte: Roger, Jean Luc; Como Deixar de Fumar; Publicações Dom Quixote, 1984, 71308

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Alimentos para combater a ansiedade – geleia real e ovo

"Geleia Real 

A geleia real é um fluido que serve para alimentar as abelhas rainha da colmeia. Devido a este alimento, as abelhas rainha vivem entre três a cinco anos, ao passo que as abelhas normais, que não se alimentam de geleia real, vivem apenas 40 a 50 dias. A sua composição nutricional é muito semelhante à do pólen. Contém substâncias que atuam no nosso organismo estimulando as glândulas suprarrenais –estas glândulas ficam afetadas com o stress crónico e o burn out, deixando de funcionar corretamente. Estas substâncias também ajudam a melhorar o desempenho do sistema imunológico, aumentam a produção do colagéneo e ajudam na recuperação de tecidos danificados. Deste modo, a geleia real, devido à sua função nutritiva, estimulante, tonificante e equilibradora do sistema nervoso, deve ser utilizada em casos de burn out, astenia, stresse, ansiedade, nervosismo, perda de memória, impotência sexual, esgotamento físico e intelectual. Desde a antiguidade que os investigadores têm tentado isolar a substância que faz com que a geleia real seja um superalimento. Infelizmente, até hoje ainda não foi possível, pelo que deve ser consumida na sua forma natural.

Ovo 

O ovo é o segundo alimento mais completo que a natureza nos pode oferecer, sendo somente superado pelo leite materno. A utilização dos ovos na alimentação tem sido discreta e humilde apesar das suas notáveis propriedades nutritivas e curativas. O ovo é muito rico em proteínas de grande valor biológico e muito bem assimiladas pelo nosso organismo, vitaminas, minerais e oligoelementos. Posso afirmar que o ovo contém quase tudo o que necessitamos para sobreviver. De todos os nutriente que o ovo contém, destaco os mais importantes: vitaminas A, D, E e K, vitamina B12, fosfatidilcolina, lecitina, carotonoides, luteína e zeaxantina. O ovo ganhou má reputação quando o seu consumo foi associado ao aumento do colesterol. Contudo, isto não passa de um mito, não existe nenhum estudo científico credível que relacione o consumo de ovos com o aumento do colesterol, pelo contrário. Numa investigação levada a cabo pela Clínica de Exames Preventivos de Saúde de Copenhaga comprovou-se que todos os indivíduos que indivíduos que consumiam dois ovos por dia baixaram o mau colesterol e, por outro lado, o colesterol HDL (o chamado bom colesterol) aumentou em cerca de 10%. Sendo assim devemos aumentar o consumo de ovos na nossa alimentação. O grande problema não está no colesterol que o ovo contém, mas sim como o ovo é cozinhado. 
https://www.soreceitasfaceis.com/acompanhamentos/ovo-cozido.html

https://www.soreceitasfaceis.com/acompanhamentos/ovo-cozido.html

É evidente que, se for cozinhado com gorduras que não sejam saudáveis, vai transformar-se num mau alimento, não por culpa do ovo, mas sim por culpa das gorduras utilizadas. Sendo assim, devemos comer os ovos cozidos, escalfados, assados no forno ou em omeleta, unicamente com um pouco de azeite. Devemos privilegiar o consumo de ovos caseiros ou de origem biológica, uma vez que os ovos do «aviário» contém grandes quantidades de substâncias tóxicas, eliminado assim as propriedades curativas do ovo. Outra questão prende-se com a contaminação e a possibilidade de contaminação por salmonela ou outro tipo de bactérias.” 

 Fonte: Bravo, João; Burn Out; Casa das Letras, setembro 2019 2ªedição, 978-989-780-109