1. Corte com o açúcar: o açúcar é um
«falso alimento» e um «falso amigo»
O açúcar é um produto químico (o seu
verdadeiro nome é sacarose), oriundo da indústria alimentar, que não é
absolutamente necessário ao nosso equilíbrio orgânico. É um produto
biologicamente inerte, cujo interesse reside no seu sabor especial, na sua tão
agradável doçura. O seu enorme consumo na atualidade explica-se, por um lado,
por esse agradável sabor, pela sensação de segurança nutritiva que
proporciona, e, por outro lado, pelas suas qualidades energéticas, que dele
fazem um indispensável auxiliar do homem moderno, cheio de pressas. O clássico
trio «café-açúcar-tabaco» ganha frequentemente a corrida nas pistas dos negócios
modernos; é um estimulante universalmente reconhecido. Mas eu gostaria de
mostrar aqui o nefasto papel deste estimulante. Com efeito, por definição, o
processo de estimulação é um processo químico que permite pôr em jogo de forma
rápida energias que até aí não estavam disponíveis. É a mesma coisa que
mobilizar um crédito bancário, mas a situação pode ser comparada com a de uma
pessoa que tenha um certo capital, vivendo unicamente dos seus recursos, e que
vá levantando cheques atrás de cheques. É evidente que essa pessoa acabará por
ver o fim dos seus recursos financeiros. Talvez seja paradoxal falar de excitação
provocada pelo açúcar quando o sabor desse produto é tão doce, mas de facto é
assim: o açúcar foi o primeiro excitante artificial posto ao nosso dispor pela
a alimentação do dia a dia. Cabe-nos a nós saber utilizá-lo e até suprimi-lo
durante o período primordial dos poucos dias que dura a desintoxicação
antitabaco. Não será da parte do leitor um esforço inútil; cada estímulo
sensorial que lhe chegar à boca pode, facto, excitar a necessidade de fumar. Os
alimentos que contém açúcar são muitos e variados. Os bolos, claro está; mas
também as compotas, o chocolate, as outras doçarias, as bebidas adoçadas, etc.
2. Nada de cozinha complicada
Adote um regime simples e mesmo
frugal: isto é, nada de pratos demoradamente cozinhados ou conhecidos como indigestos
– pratos com molhos, guisados, frituras, gorduras cozinhadas, etc.
3. Nada de gorduras
Não coma enchidos nem carnes
fumadas, a não ser perna afiambrada magra (não fumada). Não coma carnes gordas
nem peixes «reimosas» (atum, sardinhas, etc.).
4. Nada de irritantes
Não coma temperos irritantes: nenhum
vinagre (que será substituído por sumo de limão), nenhuma mostarda, nenhuma
pimenta, nenhumas especiarias ou condimentos. Use de moderação no sal. Será necessário
seguir a linha geral que atrás citei, procurando comer apenas alimentos mais
neutros que for possível encontrar. Se desejar, aromatize-os com aromas suaves:
salsa, cebolinha, cerefólio, ervas de cheiro secas – estragão, tomilho, louro,
salva, etc
Suspenda café, o chá e o cacau. Substitua-os
por tisanas energéticas de salva, tomilho ou alecrim. Se não puder passar sem
café, poderá beber no máximo uma chávena ao pequeno-almoço e outra ao meio da
tarde, mas nunca a seguir às refeições, porque nesse caso a vontade de fumar
viria logo à superfície devido à sensação de ideias e à excitação das mucosas
gustativas.
5. Nada de alimentos feculentos ou farináceos
Evite as massas, evite o excesso de
pão (substitua-o por pão integral: come-se menos...), evite os alimentos
feculentos ou farináceos, o arroz, os legumes secos...Provocam digestões difíceis
e fermentações de que resulta um nefasto «entorpecimento» geral. Durante o período
da desintoxicação, o espírito deve manter-se claro, vivo e desperto; as ideias
desenvoltas e o corpo o mais leve possível: as refeições copiosas ou indegestas
são, pois, altamente prejudiciais para a obtenção de tal estado.
6. Nada de álcool
Nem aperitivos nem digestivos nem
vinho (a não ser cortado com água). O álcool é um excitante nocivo a três níveis:
em primeiro lugar, pela excitação cerebral que provoca; depois pelo seu efeito
irritante local no palato e na língua, e, finalmente, pela associação de ideias
que traz consigo. O trio que atrás falamos- «café-açúcar-tabaco» -, pode, na
verdade, ser completado com álcool. O álcool, mesmo quando tomado em pequenas
quantidades, é nocivo para as células do organismo e prejudica a vitalidade
geral, embora cause, paradoxalmente, um certo ímpeto passageiro e uma certa
melhoria da vivacidade psíquica. Em resumo: é um elemento tóxico para consumo
em reuniões ou por prazer, mas deve ser formalmente eliminado durante os poucos
dias da cura antitabaco
Fonte: Roger, Jean Luc; Como Deixar de Fumar; Publicações Dom Quixote,
1984, 71308